Mulheres ainda são poucas no mercado de computação
- É visual. Se você for em qualquer companhia de TI vai perceber que os homens são ampla maioria. As mulheres se concentram nas áreas de apoio, como Recursos Humanos e Financeiro, mas não na área fim - afirma Sergio Sgobbi, diretor de RH e Competitividade da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação (Brascomm).
Para atuar em ambientes majoritariamente masculinos, as mulheres enfrentam barreiras que vão desde simples dificuldades de comunicação à remuneração. O Censo aponta que em 2010 o salário médio das mulheres no setor de TI era 34% menor que o dos homens. Nos cargos de chefia a situação era pior: eles ganhavam em média R$ 5.478 e elas, R$ 1.909, 65% menos.
Gerente de TI em uma administradora de shoppings centers, Alcione Mendes de Almeida conta que sofreu com preconceito, principalmente no início da carreira. A principal barreira é provar que as mulheres têm as mesmas competências técnicas que os homens.
- Quando você chega para uma reunião numa mesa cheia de homens, você percebe que, no primeiro momento, eles não te dão crédito - afirma. - Você é julgada apenas por ser mulher.
Ao longo dos seus 15 anos de carreira, Alcione teve que se adaptar ao ambiente para conseguir superar as dificuldades e hoje diz não se sentir mais incomodada. As mudanças foram na forma de vestir, com o uso de roupas mais sóbrias e formais, e até no tom da voz, que ficou mais grave para impor respeito.
- Eu cresci escrevendo códigos Cobol e não me via diferente dos meninos fazendo isso. Quando eu cheguei na graduação, o primeiro dia de aula era um 8 de março e só tinha eu de menina - lembra.
Nos quatro anos de graduação, Camila passou por situações desagradáveis, como piadinhas de que um professor corrigiu uma nota dela apenas por ela ser mulher.
- Sempre tem idiotas. Não, colega, eu estudei mais que você, mas tenho que ouvir isso só por ser mulher.
O blog ficou conhecido e, por meio dele, a jovem foi localizada pela Google para se candidatar a uma vaga para um estágio de três meses na sede da companhia no Vale do Silício. O programa Computer Science Academy selecionou 15 mulheres da América Latina que estavam terminando a graduação e Camila foi uma delas.
O incentivo à participação das mulheres se tornou comum entre as empresas de TI, que enfrentam dificuldade em atrair profissionais qualificados. Sergio Sgobbi, da Brascomm, informa que o setor é um dos que mais cresce no país, com taxa de 10,8% em 2012 e entre 8% e 10% no ano passado. Em 2013, foram criados 159 mil novos postos de trabalho, segundo dados do Caged.
Na HP do Brasil foi criado recentemente um comitê para fomentar a participação de mulheres entre os executivos e reter talentos femininos. Cláudia Braga, diretora de Planejamento Estratégico da companhia, explica que analisando os dados de funcionários foi possível perceber no momento da maternidade muitas mulheres decidem abandonar a carreira.
- Nós estamos focando nesse grupo de mulheres, que já têm alguma bagagem, mas chegam a uma fase da vida que acabam tomando a decisão de sair - diz. - A gente não tem programas rígidos, como cotas, mas queremos assegurar que as mulheres, como outros grupos, tenham acesso a todas as oportunidades.
Para tentar atrair mais mulheres para as ciências exatas, incluindo as faculdades de TI, a Secretaria de Políticas para Mulheres (SPM) vai investir este ano R$ 10,9 milhões para concessão de bolsas de estudos para cerca de 900 alunas do ensino médio que serão envolvidas em projetos em universidades de todo o país. Dos 320 projetos aprovados, 7% são especificamente da área de TI, sendo que existem projetos de automação e simulação que não estão nessa conta.
- É uma política de indução. Vamos convidar alunas do ensino médio a participar, durante um ano, de pesquisas nessas áreas. A ideia é quebrar essa imagem que as mulheres não se interessam ou não têm aptidão para as ciências exatas - explica Vera Soares, secretária de Articulação Institucional da SPM. - E isso funciona como espelho, as amigas vão vê-las seguindo essas carreiras e vão querer também.
Fonte: meionorte.com
MARIVALDO LIMA
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